Perseguida no Brasil, candomblecista consegue direito a pedir asilo nos EUA

A brasileira Silvana de Souza Silva, praticante do Candomblé, conseguiu nesta quarta-feira o direito de solicitar asilo nos Estados Unidos após ser vítima de perseguição religiosa no Brasil.
O que aconteceu
Inicialmente, o pedido de asilo político da brasileira havia sido negado. Os tribunais de imigração dos EUA alegaram que as ameaças sofridas por Silvana não seriam suficientes para conceder o benefício, pois configuravam apenas "discriminação".
Tribunal de Apelações do 9º Circuito considerou suficientes as provas apresentadas para caracterizar "perseguição". Segundo o Tribunal, há "fortes evidências" de que Silvana foi alvo de assédio e vandalismo sistemático, incluindo a ameaça de morte com arma de fogo em sua própria casa.
Corte afirmou que caso fosse obrigada a retornar ao Brasil, a candomblecista poderia correr risco de morte. A decisão estabelece que o Conselho de Imigração reavalie o caso, e considere o contexto de violência e perseguição enfrentado por praticantes de religiões de matriz africana no Brasil. O reconhecimento dessa perseguição é essencial para a aprovação do direito ao asilo.
Advogado de Silvana disse que ela está muito feliz com a decisão. José Vergara explicou que o processo de asilo por si só não é fácil, ainda mais quando o pedido inicial é negado, fazendo necessária uma apelação. Ele destaca também que a atual "situação política para o imigrante" nos EUA, torna o processo ainda mais desafiador.
"Com a presente situação política aqui nos EUA, ela estava com muito medo de ser deportada" disse o advogado, José Vergara.
Mesmo que o processo ainda esteja em andamento, a decisão do Conselho de Apelações de Imigração favorece o caso da brasileira. Atualmente, ela vive na Califórnia com o marido e um filho de 9 anos. Seus outros dois filhos permanecem com a avó materna no Brasil.
Decisão vem mais de 10 anos após o assassinato do pai de Silvana
A brasileira praticava sua religião "em segredo" e "escondida" devido ao medo de violência, afirmou o tribunal. Praticante do Candomblé há mais de 20 anos, ela afirmou que muitos candomblecistas em sua vizinhança mantinham sua identidade religiosa confidencial. Em 2010, seu pai foi assassinado durante uma invasão à sua residência. Na ocasião, os agressores os chamaram de "bruxos" e "feiticeiros". Após o crime, seus filhos também foram discriminados na escola e ameaças foram pichadas no muro de sua residência.
Em 2021, o marido de Silvana recebeu uma oferta falsa de emprego, para tirá-lo de casa. Sozinha, a candomblecista foi surpreendida por um invasor armado, que lhe deu um ultimato para que deixasse sua casa.
Decisão que negava o asilo, argumentava que Silvana não havia sofrido danos físicos e que poderia se mudar para outro local do Brasil. Porém, o Tribunal de Apelações considerou que essa análise ignorou o contexto de perseguição religiosa no país, destacando que, em 2019, mais de 200 terreiros (templos de Candomblé) fecharam devido a ameaças, e que a maioria dos casos de perseguição religiosa registrados envolvia praticantes de religiões afro-brasileiras.